quinta-feira, 4 de junho de 2009

A poesia pictórica de Cesário



E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés de fel como um sinistro mar!


Como se pode observar, estes versos retratam o modo obscuro de Cesário retratar a cidade. Esta surgia-lhe de braço dado com a doença, com a morte, a tristeza, a infelicidade e a prisão. Note-se que há um determinado desejo de poder "ser livre", de ver o horizonte, mas vê-se aprisionado entre os prédios. Deste modo, é criado, talvez inconscientemente, um desequilíbrio emocional que leva ao extremo oposto da felicidade.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A pintura lírica de Cesário Verde

“Além de ser uma réplica do realismo irónico queirosiano (…) o realismo lírico de Cesário Verde será o seu esforço de autenticidade anti-retoricista, “com versos magistrais salubres e sinceros””.


Primeiramente, é necessário dar a conhecer que Cesário viveu na época do realismo e que foi formado por este movimento literário. Daí serem encontrados determinados traços característicos destas correntes literárias como a descrição objectiva do real, a presença de determinadas figuras do povo e a preocupação social, entre outras.
Como se pode constatar, Cesário é contemporâneo de Eça, bem como de Antero de Quental.

Abordando primeiramente o ponto primordial: “réplica do realismo”, de facto verifica-se. Cesário tende a descrever o que vê, não se preocupando com a sua opinião pessoal, que, de facto, é suprimida. Assim, revela e releva minuciosamente o objecto, as suas características. Mas, acima de tudo, explora exaustivamente os sentidos, as sensações. Este expõe as cores, os movimentos, eleva as personagens e aprecia a regularidade. Tudo isto não para expor os sentimentos ao leitor, mas sim para lhos despertar.

Os seus versos são considerados magistrais pelo facto de Cesário também ser considerado um mestre, daí ter inspirado os poetas vindouros. Contudo, todos os seus versos têm um traço de sinceridade e de salubridade. Isto porque Cesário não opina, sendo por isso considerado um poeta ausente. Os seus versos são de rápida compreensão, bem como são claros e objectivos. Note-se que Cesário era perfeccionista, tendia, por isso, a alcançar uma poesia bonita, onde os sons e a musicalidade brotavam. Este usava também a expressão verbal uma vez que se pode constatar a presença regular da adjectivação rica e expressiva.

É ainda de reforçar a ideia de que Cesário pinta com as palavras, daí a sua poesia estar num paralelismo com as artes plásticas. Este dá grande ênfase aos aspectos sensoriais, às sensações, às cores, na descrição de locais e situações.

Por fim, é de relevar que foi Cesário que abriu as portas ao modernismo. E que foi este que deu origem ao parnasianismo.